Gestão Respeitosa de Eventos Adversos Clínicos Graves – Eventos Sentinelas
Em 2011, o IHI (Institute for Healthcare Improvement) publicou a 2ª edição de seu documento sobre os mecanismos de abordagem institucional de eventos adversos clínicos graves que garantam as condições para a gestão segura destes eventos e uma relação franca e leal entre as partes envolvidas (paciente, família, organização de saúde, sociedade) (Respectful Management of Serious Clinical Adverse Events. Second Edition. Innovation Series 2011. Jim Conway; Frank Federico; Kevin Stewart; Mark J. Campbell).
Diariamente erros e eventos adversos clínicos graves ocorrem nas organizações de saúde, resultantes de falhas nos sistemas, erro humano, atos intencionalmente danosos, complicações raras inesperadas e outras potenciais causas.
Não há nada mais desesperador para os responsáveis pela organização de saúde que receber um telefonema notificando a ocorrência de um evento grave inesperado com um dos pacientes sob sua responsabilidade.
Os riscos de não se responder prontamente e de maneira efetiva a estes eventos adversos graves são significativos e incluem perda da credibilidade, incapacidade de resolução do problema, impossibilidade de alcançar melhorias através do aprendizado com o erro, como também surgimento de dúvidas quanto ao que de fato é importante para a organização, trazendo aumento das ações regulatórias e dos processos legais, e a exploração negativa do episódio pela mídia.
Na crise que ocasionalmente emerge destes eventos, o que diferencia as organizações, positiva ou negativamente, é (1) a sua cultura de segurança, (2) a atuação da alta direção, (3) a existência de um plano avançado de gestão para cada situação, (4) a priorização das respostas ao paciente/família, aos profissionais de saúde e à própria organização de saúde, (5) e como as ações, imediatas e ao longo do tempo, incorporam elementos integrados de empatia, transparência, suporte, avaliação, resolução, aprendizado e incorporação de melhorias nos processos.
Diante disso, os principais objetivos do documento do IHI são:
- Incentivo e apoio a qualquer organização no desenvolvimento de um plano de gestão de crise clínica antes de haver a necessidade de utilizá-lo;
- Prover uma abordagem para integrar este plano na cultura de qualidade e segurança organizacional, com enfoque particular no cuidado centrado no paciente/família e com tratamento justo e correto para os profissionais de saúde; e
- Prover a organização de um recurso prático e conciso para informar às demais partes envolvidas, sobre seus esforços quando um evento adverso clínico grave ocorre.
Este documento foca particularmente nos eventos adversos clínicos que evoluem com dano psicológico e/ou físico permanente (ou morte) em um ou mais pacientes, sendo geralmente referenciados como “eventos sentinelas” e que são usualmente preveníveis. O IHI utiliza como definição dos eventos sentinelas, entre outras fontes citadas no texto, aquelas especificadas pelo The National Quality Forum Serious Reportable Events, versão 2011 (acessar abaixo o link do documento):
1. Eventos relacionados a procedimentos invasivos ou cirúrgicos:
- Cirurgia ou outro procedimento invasivo realizado no lado errado
- Cirurgia ou outro procedimento invasivo realizado no paciente errado
- Cirurgia ou outro procedimento invasivo errado realizado em um paciente
- Esquecimento de corpo estranho em um paciente após cirurgia ou outro procedimento invasivo
- Morte intra-operatória ou imediatamente no pós-operatório/procedimento em paciente ASA 1
2. Eventos relacionados a dispositivos ou produtos para a saúde:
- Morte do paciente ou dano grave associado com o uso de medicamentos, dispositivos ou materiais biológicos contaminados fornecidos pela organização de saúde
- Morte do paciente ou dano grave associado com o uso de um dispositivo na assistência, na qual este uso é feito para outros objetivos que não os recomendados
- Morte do paciente ou dano grave associado com embolia intravascular gasosa que ocorre durante a assistência
3. Eventos relacionados à proteção do paciente:
- Alta ou liberação de paciente de qualquer idade que é incapaz de tomar decisões, para outra que não seja a pessoa autorizada como responsável legal pelo paciente
- Morte do paciente ou dano grave associado com fuga/evasão do paciente
- Suicídio do paciente, tentativa de suicídio ou auto-mutilação que resulte em dano grave, enquanto sob os cuidados da organização de saúde
4. Eventos relacionados à assistência:
- Morte do paciente ou dano grave associado a erro de medicação
- Morte do paciente ou dano grave associado com administração insegura de sangue
- Morte materna ou dano grave associado com trabalho de parto ou parto em gestação de baixo risco
- Morte de recém-nascido ou dano grave associado com trabalho de parto ou parto em gestação de baixo risco
- Morte do paciente ou dano grave associado com queda enquanto sob os cuidados da organização de saúde
- Úlcera de pressão de estágio 3 ou 4 adquirida após a admissão na organização de saúde
- Inseminação artificial de esperma de doador errado ou de ovo errado
- Morte do paciente ou dano grave resultante de perda irrecuperável de um espécime biológico insubstituível
- Morte do paciente ou dano grave resultante da falha de seguimento e comunicação de resultados laboratoriais, citopatológicos ou radiológicos
5. Eventos ambientais:
- Morte do paciente ou de profissionais de saúde ou dano grave associado com choque elétrico durante o processo da assistência
- Qualquer incidente no qual sistema especificado para oferta de oxigênio ou outro gás ao paciente não contenha o gás, ou gás errado ou contaminado por substâncias tóxicas
- Morte do paciente ou de profissionais de saúde ou dano grave associado com queimadura de qualquer fonte durante o processo da assistência
- Morte do paciente ou dano grave associado com o uso de contenção física ou grades durante o processo da assistência
6. Eventos radiológicos:
- Morte do paciente ou dano grave associado com introdução de objeto metálico na área de ressonância magnética
7. Eventos potencialmente criminosos:
- Qualquer nível de assistência prestada por falso profissional de saúde dentro da organização prestadora da assistência
- Sequestro de paciente de qualquer idade
- Abuso sexual de paciente ou de membro do corpo funcional dentro ou nas imediações da organização de saúde
- Morte de paciente ou de membro do corpo funcional ou dano grave resultante de assalto dentro ou nas imediações da organização de saúde
O QUE FAZER PARA SE PREPARAR PARA UM EVENTO:
Passos chave para a gestão de crise:
Evitar a crise: 1. Liderança e cultura organizacional de segurança 2. Políticas, diretrizes, procedimentos e práticas de prevenção de riscos
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Preparar para gerenciar a crise: 3. Equipe (time) de gestão de crise 4. Plano de gestão de crise
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Conter a crise: 4.1. Resposta organizacional priorizada: Prioridade 1 - Paciente e Família
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Resolver a crise: 4.2. Avaliação do risco e análise de causa raiz 4.3. Comunicação interna e externa 4.4. Relacionamento com a mídia 4.5. Reembolso e compensação 4.6. Notificação e preparação para auditoria externa de órgãos reguladores 4.7. Diretrizes para identificação de eventos adversos que afetem múltiplos pacientes e/ou para pacientes ainda não vitimados mas em risco.
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Incorporar nos processos as melhorias oriundas do aprendizado com a crise.
O QUE FAZER QUANDO A CRISE OCORRE E NÃO EXISTE PLANO DE GESTÃO:
Muitas organizações de saúde não possuem plano de gestão de crise para eventos adversos clínicos graves. Para estas organizações o IHI recomenda as seguintes ações:
- Notificar imediatamente o corpo diretivo responsável legal pela organização.
- Estabelecer caráter de urgência.
- Constituir, para este fim específico, uma Equipe (time) de Gestão de Crise liderada por um representante da alta direção.
- Utilizar os apêndices A e B deste documento (acessar abaixo o link do documento) como um guia para o que for necessário ser feito no todo e na primeira hora, dia, semana e mês, e então modificar de acordo com as particularidades e necessidades de cada organização e situação.
- Revisar este documento para a integralidade do contexto, referências, contatos e outras fontes.
- Considerar fortemente solicitar apoio externo para o manejo da crise.
- Contactar profissionais da comunidade local ou nacional que tenham tido experiência anterior em situação semelhante e que sejam respeitados pela condução adotada (apêndice D) (acessar abaixo o link do documento).
- Nunca perder o foco no paciente e sua família, no corpo funcional e na organização.
CONCLUSÃO:
Um evento adverso clínico grave se torna uma crise para todos os envolvidos. A alta direção tem a carga e o peso destes eventos, mas ter a carga não é suficiente. A alta direção tem também a responsabilidade de assegurar que tudo é feito para compreender o que ocorreu e porque ocorreu, e para prevenir a reincidência do problema. Estas crises têm força para transformar dramaticamente para melhor as organizações de saúde.
Acesse este link e leia o documento de Gestão de Crise do Institute for Healthcare Improvement na íntegra.
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